quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Pausa para um café

- Veja que chuva lá fora.
- Não me importo com a chuva.
- É tão bela!
- Para mim é tudo igual, a mesma coisa insossa que é o Sol brilhando.
- Eu não acho, eu acho que tudo difere no tempo e espaço, cada chuva é única, nada é insosso porque nada se repete. Somos nós que criamos a monotonia, o tédio, a mesmice. Mas no fundo tudo é diferente.
- Como você se deslumbra fácil com coisas tão banais.
- Nós somos banais. Toda beleza do mundo reside em coisas banais. A vida é uma banalidade, uma futilidade, nós é que damos significados para nossa própria existência. E nós tornamos, também, os significados ausentes da existência. Faz parte da diferença que existe entre as coisas, entre nós.
- Diferença... É tudo igual, tudo diferente.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Eu posso fingir. Não só posso como faço isso. Não me acuse, você também está fingindo. Eu finjo que escrevo e você que lê. Eu finjo ser para os outros e termino sendo. Portanto eu sou aquilo que você finge abominar e eu abomino você por seu fingimento. A única coisa certa é a morte, mas acreditamos que ela demora. Mas ninguém sabe, ou finge não saber. Você gostaria de saber quando morrerá? Eu não tenho certeza. Mas se eu soubesse eu gostaria de me preparar. Talvez me vestisse como para uma grande festa. Ou não vestiria nada, não é necessário estar vestido para morrer, é? Ao que me parece morto não sente vergonha, não sente nada. Pode só parecer, pode ser que só não pode mais fazer nada. Eu não sei o que fazer, bem como você finge que sabe. Eu finjo que sei. Você finge que sabe que sei. E eu finjo que sei que você não sabe que sei que você está fingindo saber. E o que importa se a morte vem certeira tirar-lhe a vida? Não sou nada mais do que imagino não ser, sou o nada que se transformará e continuará nada. E você também, porque fingimos iguais, somos iguais em nossas máscaras. Eu sou você.