sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Janela













Passaram carregando um móvel, usavam suas próprias forças humanas. Ela os observava da janela de seu quarto, num primeiro olhar pareceu uma cena rotineira e sem importância, e não tinha importância alguma mesmo. Mas ela estava ali, eles também - carregando o móvel. Não observavam nada além do imediatismo do fato de estarem suportando fisicamente aquele objeto. Como aqueles homens eram fortes. Apaixonou-se pela cena a que estava exposta, a beleza da força a tomou em fascínio. Continuou imóvel a observar cada movimento que se descortinava a sua frente. Os rapazes amarraram o móvel sobre a caçamba de um automóvel, verificaram se estava tudo certo para o trajeto que percorreriam e acharam que estava bom. Então olharam a moça da janela. Ela subitamente enrubesceu, sentiu-se envergonhada, fechou a janela e puxou a cortina, deitou-se na cama e atormentada adormeceu. Após sonhos desconexos despertou, levantou e foi até a janela. A rua era simplesmente a rua, tudo estava como antes, sem força, sem móvel sem rapazes. Ali parada de novo sorriu encabulada e continuou a observar o vazio.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Eu me vejo no espelho da mesma maneira que você me olha e vê um quadro de Miró?
A vida é de uma insignificância bastante significativa. Eu nunca me admirei, talvez até seja, as vezes, admirado por alguma coisa, mas eu ficar orgulhoso por ser eu nunca aconteceu. Os outros sempre me pareceram perfeitos e eu não. Cresci retraído. De quem é a culpa? Acho que minha não é, ou será?

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Trabalho

Sentado em sua mesa de trabalho ele não sabia se era bom ou ruim não ter mais trabalho a ser feito aquele dia. A preguiça de inventar algo produtivo para passar o tempo ocioso se chocava com sua consciência de bom cidadão trabalhador. Nunca soubera realmente o que queria, todas as escolhas que fizera até aquele momento de sua vida resultavam menos de suas atitudes e vontades concretas, que de um condicionamento invisível que o mantinha prisioneiro.
Pôs-se ele a pensar sobre sua própria existência, que a princípio ele gostava de chamar 'vida'. Mas até para se indagar ele mantinha a mesma atitude clichê. Não estava acostumado a questionar nada, nunca houvera refletido sobre isso, acreditava que tudo era uma verdade incontestável. As coisas existiam, simplesmente, e cabia às pessoas, como ele, aceitar isso. Seus pensamentos viajaram, o levaram a lugares desconhecidos de si mesmo. Assustado ele olhou fixamente o monitor de seu computador a sua frente e desculpou-se:
- Tenho trabalho a fazer.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Resolvi fazer uma pequena alteração no nome do meu blog. Me pareceu substancialmente melhor e mais condizente com o seu conteúdo.